Clube de Regatas Vasco Da Gama X Penalty – Terceiro Uniforme “Camisas Negras”

05 abr 2011
Por: Luís

A data de 7 de Abril de 1924 pode ter sido decisiva para o futebol brasileiro. Se não fosse pelo ato de José Augusto Prestes, talvez Garrincha, Pelé e tantos outros atletas negros não tivessem defendido a seleção Brasileira em suas conquistas.

Batizada de “Resposta Histórica”, a carta escrita pelo presidente do CRVG Vasco Da Gama recusava a “oferta” de dispensar seus 12 jogadores negros e mulatos, sob a falsa acusação de “profissão duvidosa”, e assim entrar na Associação Metropolitana de Esportes Atléticos -AMEA, por sinal criada por Botafogo, Flamengo e Fluminense depois de tentar excluir o Vasco da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). Tudo começou quando o time em seu campeonato de estreia arrasou os grande, ganhando o campeonato com apenas uma derrota.

Com a alegação que os operários tinham “profissão duvidosa” e que o Vasco não tinha estádio próprio, tentaram expulsar o time da liga. Como a tentativa foi falha, se uniram a mais alguns times e criaram a AMAE, convidando o Vasco na condição de expulsar seus jogadores negros.

Desta forma, em 1924 foram disputados dois campeonatos em paralelo sendo o da LMDT vencido de forma invicta pelo Vasco, que conquistou, assim, o bicampeonato estadual. No ano seguinte o clube venceu as resistências da AMEA, conseguiu integrar-se à entidade mas sem dispensar os negros e mulatos e voltou a disputar o campeonato contra os grandes times sob a condição de disputar seus jogos no campo do Andarahy.
Apesar disso, o Vasco decidiu construir o seu próprio estádio, para acabar com qualquer exigência. O local escolhido para a construção foi a chácara de São Januário, que fora um presente de Dom Pedro I à Marquesa de Santos.

Em 21 de abril de 1927, o Vasco da Gama inaugurava o então maior estádio do fora da Europa, o Estádio Vasco da Gama, construído em dez meses e com dinheiro arrecadado por uma campanha de recolhimento de donativos de torcedores de toda a cidade. Dois anos depois seria inaugurada a sua iluminação, passando a ser o único clube do país com um estádio em condições de sediar jogos noturnos.

Assim depois da Camisa que ficou conhecida como Cruz Templária, a Penalty usa o mote da Resposta Histórica na terceira camisa do Vasco.

A camisa foi lançada dia 24 do mês passado, mas nós do SneakersBR esperamos até o primeiro jogo para poder fazer uma avaliação total do kit. E a estreia foi nesse domingo, dia 03 de Abril, contra o Bangu, o primeiro time nacional a aceitar um negro, Francisco Carregal em 1905.

O uniforme, é claro, faz referencia ao time de 23/24 e traz as cores do Lusitânia – o Vasco criou seu departamento de futebol ao se fundir com o clube Luso em 1915. Todo em preto e sem a faixa – que só foi adotada em 1930 – mas com calções pretos também, ao invés combinação de camisa negra e calções brancos que rendeu ao time o apelido de “Camisas Negras”.

Na época ainda se usavam as golas de cadarço, e por isso esta tinha um prolongamento em branco que ia ate quase o meio da barriga. Aqui a Penalty usa uma versão estilizada que lembra muito as golas de camisas de rugby.

Outra adição para manter o uniforme na pegada clássica é a de 50% de algodão de trama longitudinal, o que, combinado aos detalhes como números com fonte mais clássica e os toques em branco tendo um leve tom de bege, confere ao uniforme o visual retro. Um detalhes interessante foi que a Penalty optou por colocar as oito estrelas do time nas costas, pois na época inspiradora o time ainda não as possuía.
Só faltou a marca usar a cruz de Cristo, ao invés da Cruz Pátea, que só foi adotada em 1970. Talvez isso se deva ao fato de agora o Vasco utilizar a Cruz de Cristo dentro da Cruz Pátea e também por esta ter sido o tema da antiga terceira camisa.

O único erro que compromete a camisa, na verdade, foi a utilização do Cruz no meio da peça e do símbolo da mão – em alusão à campanha contra o racismo – no peito. Fica parecendo que o escudo do time é a mão. Melhor seria se a Penalty tivesse invertido as posições – além de ficar mais coerente com as outras camisas do clube que sempre levaram a Cruz Pátea ao peito.

Outros dois detalhes também podiam ser pensados de outra forma: no conjunto de linha os meiões listrados não combinaram com a camisa e calção. Como os dois últimos trazem detalhes em branco sólido, o meião listrado aparece demais. Já na camisa de goleiro, o uso do escudo do Vasco ficou esquisito – seria melhor manter a Cruz como sempre foi feito.
Pelo menos a Penalty trouxe de volta a cor verde ao uniforme de goleiro, já que esta, junto com a azul, se tornaram quase lendárias no clube sempre sendo usadas e elevadas ao sucesso pelo ídolo Carlos Germano. Interessante notar que a camisa branca de goleiro, é quase bege e que os números trazem uma falsa costura, detalhes que trazem o visual retro ao modelo.

Uma boa ideia que poderia ter um ou outro detalhe modificado, mas que não compromete o conjunto total.
Uma pena os patrocínios, hoje tão necessários, terem estragado a simplicidade da camisa.

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