Nike Dunk ‘Black And Tan’ Entra Para O Rol Das “Polêmicas Sneakerheads”

19 mar 2012
Por: Luís

Quando as imagens do DUNK batizado de BLACK AND TAN apareceram pela primeira vez um fato chamou à atenção daqueles mais atentos, que pesquisaram sobre a referência: o drink não é comumente consumido na Irlanda. Até porque seu “nome” é também o apelido da Real Força Policial da Reserva Irlandesa.
A força paramilitar composta de ingleses veteranos da primeira guerra foi formada para suprimir a revolução que tentava implementar uma republica no país. Seu apelido veio dos uniformes improvisados e a organização ficou famosa por sua ações altamente violentas, atacando até mesmo civis.
A historia é longa e os resultados foram desastrosos, mas para se ter uma ideia de como a RIC ficou mal vista no país, até hoje na Irlanda o termo “TAN” é uma maneira ofensiva de se referir aos ingleses.

Apesar da NIKE nunca ter utilizado o apelido para descrever o DUNK, nem ter posicionado o modelo como um lançamento especial do Dia de São Patrício (o que o ligaria diretamente à Irlanda), a data de lançamento e a homenagem a cervejas logo fizeram a correlação difícil de ser desmentida.
Não demorou muito para que grupos irlandeses se manifestassem contra o apelido, acusando-o de ofensivo e comparando ao mesmo que “apelidar um tênis de Al-Qaeda”.
A marca esportiva, por outro lado, se justificou ao dizer que esse era um apelido não oficial “dado por alguns fãs” e fez questão de destacar que o modelo “simplesmente homenageia o ato de se balancear uma pale ale com uma stout num pint”. Ou seja, a referência era o drink, nada mais.

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Essa é uma questão delicada e que evoca algumas outras polêmicas do mundo SNEAKERHEAD.
Talvez a mais poderosa e parecida com esta foi o caso da ADIDAS, que em 2006 se viu obrigada a retirar das prateleiras seu modelo da coleção ADICOLOR criado em parceria com a HUF e o artista americano BERRY McGEE, mesmo depois da marca ter lançando um extenso comunicado se desculpando e explicando o modelo.

Tudo começou quando as primeiras fotos do tênis, que, apesar de marrom, representava o amarelo na paleta de cores da coleção, surgiram com uma caricatura considerada ofensiva.
BERRY, que é parte chines, explicou que a caricatura trazia um dos seus personagens, batizado de RAY FONG assim explicado: “RAY foi desenvolvido há mais de quatro anos para uma exposição em Nova York. Ele foi feito com base numa foto minha, de quando eu tinha quatro anos, e seu nome veio do meu tio, que morreu uma década atrás. Nós não imaginamos que o desenho fosse ofensivo e eu me desculpo com aqueles que a interpretaram assim. Tudo que me lembro era de ver a imagem de STAN SMITH nos meus tênis quando pequeno, então decidi por minha caricatura num modelo quando tive essa oportunidade.”

Não adiantou muito: a imagem descrita como tendo “nariz de porco e olhos inclinados” não foi aceita pela comunidade chinesa, que ameaçou um boicote em massa aos produtos da ADIDAS e apareceu protestando até em telejornais. No final, a marca das 3 listras decidiu retirar o modelo das lojas, já que nem uma retratação do artista foi suficiente para acalmar os ânimos.

Outra polêmica famosa foi a do AIR STAB RUNNIN’ GUNNIN’, retirado das lojas não pela pressão popular, mas pelo que o departamento de relações públicas da NIKE, na Inglaterra, viu como um ‘possível problema’, provando que a relação das marcas com a opinião publica é tão próxima quanto perigosa.
O modelo foi lançado em 2008, com um QUICKSTRIKE que chamava atenção pelo cabedal com ELEPHANT PRINT e detalhes pontilhados, numa combinação de preto e rosa.
Acontece que naquela época o Reio Unido viu uma onda de ataques onde adolescente esfaqueavam alguém e saiam correndo, onda esta que matou mais de 53 pessoas, a maioria delas bem jovens. Um tênis que traz a palavra facada em seu nome – STAB – além da inscrição “Correndo e Atirando” (RUNNIN’GUNNIN’) e de um cabedal que podia facilmente ser interpretado como uma referência a sangue podia causar confusão e uma correlação direta com a onda de ataques.
Resultado? A NIKE retirou os modelos das suas lojas não só na Inglaterra e interrompeu imediatamente sua distribuição. Uma infeliz coincidência.

Ultimamente o que se viu, principalmente nos Estados Unidos, é uma má visão da opinião pública em relação ao mercado sneakerhead. A confusão no lançamento de modelos como o AIR JORDAN XI CONCORD e o FOAMPOSITE “GALAXY”, com lojas sendo danificadas e pessoas – alegadamente – feridas por lugares nas filas, e alguns roubos pós compra, só foi prejudicial à maneira como o público de fora vê a nossa cena.
Se polêmicas como as citadas são ruins quando a situação é normal, são piores ainda quando a opinião pública vê com maus olhos um grupo que não conhece bem, mesmo que se possa questionar até que ponto um tênis pode ser tão ofensivo ou quanto a onda do politicamente correto tem afetado o modo como as pessoas enxergam o mundo.

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