SBR Por Aí: Conhecendo As Instalações Da PUMA Na Alemanha – Capítulo 2

EDITORIAL
23 abr 2019
Por: Gerson Gomes

Na semana passada, fomos convidados pela PUMA a conhecer suas instalações na Alemanha e conversar com alguns de seus executivos sobre assuntos que tinham como principal ponto o RS, desde a origem do primeiro modelo até os novos produtos do que agora é uma família, oriundos de uma nova plataforma.

Nessa mini-turnê, fomos até Herzogenaurach, cidade aonde a família Dassler começou sua confecção de calçados e aonde os irmãos Adolf e Rudolph começaram a trabalhar juntos em modelos esportivos, depois trilhando caminhos próprios, com Rudolf começando com a Ruda – formada das iniciais de seu nome e sobrenome – e que depois se transformou em PUMA, querendo trazer o espírito do felino para seu empresa.

Em meio a nossas caminhadas internas, conhecemos produtos que ainda chegarão ao mercado nos próximos meses – e sobre eles não podemos falar absolutamente nada – além de alguns dos diversos ambientes dos prédios, um deles com itens históricos da marca estão expostos em uma ponte, que serve de cenário para uma linha do tempo de produtos esportivos, apresentados em uma visita guiada por Helmut Fischer, o tão conhecido Mr. PUMA – que também empresta cerca de 8000 pares de seu acervo pessoal para um respeitável museu, que conta a história da marca, mas sobre isso falaremos depois.

Hoje, no segundo capítulo dessa série, é dia de revelar o papo que tivemos com Charles Johnson, Diretor Global de Inovações, que conversou bastante sobre a importância do resgate do RS Computer – aliás, ele estava calçando uma versão única do modelo, com a cápsula transparente envolvendo seu sistema eletrônico e deixando todo o conteúdo interno à mostra – como ele encara a tecnologia e sua aplicação e o que podemos esperar da PUMA nesse cenário, em um futuro próximo.

SBR – Mr. Johnson, é um prazer conhecê-lo. Obrigado pela convite e por nos receber aqui.

Charles – O prazer é todo meu.

SBR – Minha primeira pergunta é sobre RS e não sobre o RS Computer: vocês trouxeram de volta o RS de seus arquivos, o RS Original, atualizaram o sistema e transformam em uma família totalmente nova, além de uma nova plataforma. De onde veio essa ideia?

Charles – Eu acho que não é nenhum segredo que a tecnologia digital e que pode ser vestida está muito presente em nossa indústria e nós também impulsionamos a inovação. Estamos pensando e trabalhando no espaço da tecnologia que pode ser vestida. Nós fizemos alguns calçados inteligentes, algumas roupas e o que nós queríamos fazer, antes de entrar nisso, era realmente entender onde estivemos.  Acredito que, a fim de descobrir onde você vai, você deve que entender onde esteve. Se você gastar algum tempo pesquisando uma tecnologia que se veste, em esportes, e como os computadores foram usados, ​​você chega no RS Computer. Então, nós achamos que era muito importante trazê-lo à vida, novamente, para nos ajudar a descobrir onde seria nosso ponto de partida e onde podemos ir.

SBR – Hoje, nós temos esses tipo de “tênis inteligentes” no começo do caminho, como o Auto-Disc, por exemplo. Onde você acha que essas tecnologias podem chegar?  Você acha que nos próximos anos poderemos, simplesmente, comprar equipamentos e peças de vestuário desse tipo nas lojas?

Charles – Sim! Eu certamente espero que sim! Vocês conhecem algumas das coisas nas quais estamos trabalhando, como o RS Computer, que faz parte da nossa história, e realmente estamos preparando o cenário para onde queremos ir, com tecnologia digital aplicada aos calçados. Se você gastar algum tempo pesquisando a plataforma de tecnologia de inteligência ARFIT, isso lhe dirá toda a história de onde planejamos usar nossa tecnologia digital e, além do que estamos descobrindo com esse tipo de produto, existe um real interesse: trazer tênis inteligentes, tecnologia inteligente, para a vida cotidiana. Não apenas para a performance, mas para o dia a dia. É nisso que estamos apostando. Por isso, pretendemos ser a primeira marca a ter um “tênis inteligente” realmente comercial.

SBR – Duas semanas atrás estava acontecendo o Lollapalooza Brasil e uma cantora francesa, Jain, não sei se você conhece…

Charles – Não, mas tomei conhecimento depois de ler suas perguntas.

SBR – Ela estava tocando sozinha no palco, com uma mesa, e controlava a mesa com botões em sua roupa. Isso parecia muito louco para mim e comecei a pensar em chegar em casa e ligar meu microondas, minhas luzes, minha banheira…

Charles – Eu acho que estamos passamos por um período onde usar calçados inteligentes e tecnologias inteligentes não vai ser algo realmente. As pessoas têm falado, nos últimos três, quatro anos, sobre as tecnologias de amarração…a tecnologia está lá mas ainda não em escala comercial. O que eu acho é que nós ainda não temos, eu diria, toda a capacidade da medição dos dados e você sabe quanto o trabalho de dados para o esporte o os atletas é importante. Mas o que eu acredito é que existe uma maneira pela qual a tecnologia entrará em nossas vidas de um jeito muito mais simples, como a que você mencionou. Usar tecnologia para uma experiência simples é realmente onde queremos levar nossa inteligência. A ideia de que você também possa se adaptar a ela sem problemas…novamente, eu acho que é isso que quero dizer com o uso certo da tecnologia: experiência simples. Agora, o que estamos vendo, por exemplo, com a inteligência adequada, é que as pessoas estão descobrindo coisas sobre o assunto e seu uso. Elas não imaginam algo que talvez já esteja por perto.

SBR – Algumas vezes bem na sua frente!

Charles – Exatamente! Com o RS Computer, temos coisas que realmente precisamos entender. Essa é minha missão, na verdade, de uma vez por todas, reivindicar nossa história e nossa tecnologia nos calçados. Isso não é novo para nós. É uma tecnologia que tem mais d 30 anos de idade e é muito importante lembrar disso.

SBR – Falando um pouco mais sobre tecnologia no geral, eu te vi em um vídeo no YouTube falando sobre o RS . Uma parte em que eu fiquei muito interessado foi quando você disse que não baseia seu trabalho apenas no trabalho, mas em diversão, também: você precisa estar se divertindo com seu trabalho, se divertindo com o que está fazendo. Eu acho muito legal ouvir você dizendo isso, mas ao mesmo tempo, isso traz uma pressão maior para você? Pensar que você tem que fazer algo completamente novo, estar se divertindo, mas precisa entregar algo especial…como você lida com essa pressão?

Charles – Sabe, são dois os caminhos: um deles, com o RS Computer, claro, tinha como  objetivo trazê-lo de volta e, digamos que, a tecnologia certamente ultrapassou o que o RS Computer poderia fazer. Junto disso, trouxemos a diversão para o jogo – não sei se você experimentou ele, que estava no app. Foi essa a forma que eu encarei. Essa é uma história técnica, uma história funcional, mas ela também surgiu em torno da era dos anos 1980, dos videogames e de como, ultimamente, houve um interesse renovado em alguns desses jogos da velha guarda. Por isso, resolvemos construir um jogo, com as mesmas características, e daí vem a ideia de usar a tecnologia de uma forma descontraída, fluida e muito especial. Pelo outro lado, é um trabalho muito duro, como eu estava dizendo mais cedo, criar uma experiência realmente simples. Isso pode ser muito difícil…afastar-se e reduzir algo é um exercício dificílimo de desenvolvimento. A tecnologia é importante, novamente, mas não queremos mais fazer somente hiper medições ou ter milhares de dados, que são coisas mais importante no nível de atletas profissionais, mas queremos atender as pessoas comuns, pessoas que são ativas, mas não atletas profissionais… trazer algo simples para divertir ou pelo menos fácil de usar. Essa é a chave! Então sobre a sua pergunta, a resposta é: é muito desafiador criar algo simples e divertido. Um baita desafio!!! 

SBR – Talvez esse seja o combustível para você?

Charles – Sim! Claro!!! Mas o que eu quero dizer é: você sabia, antes de existir, que você queria ter um telefone que tudo que você teria a fazer era mover o seu dedo em sua tela??? Quase ninguém poderia imaginar isso. É uma proposta de tecnologia diferente ou um planeta completamente diferente. Mas é para esse tipo de uso de tecnologia, a que anda no sentido de criar algo simples, que estou aqui. E isso não é nada fácil.

SBR – Nesse mesmo vídeo, você disse querer criar melhores produtos para criar melhores atletas e que isso caminha junto. E agora estamos conversando sobre criar melhores produtos para pessoas que não são atletas.

Charles – Não somente…

SBR – E ainda fazer isso de uma maneira fácil… você acha que esses produtos podem ajudar pessoas com algumas limitações ou com algumas necessidades especiais, mesmo que seja só roupa ou só tênis?

Charles – Novamente, vou me referir à inteligência que em algum nível você pode pensar: bem, há as pessoas ativas, que realmente precisam ter um calçado com amarração automática, e existem algumas pessoas que realmente precisam de nossa ajuda. E essa não é nossa única motivação. Vamos dizer que pode ser com algum produto: sei que as pessoas podem se beneficiar de serem capazes de calçar um tênis escorregando os pés e não precisando esconder o que são. É meio isso, não necessariamente algo tão forte como de uma doença, mas alguém que precisa de algo além do que uma pessoa ativa é algo que vem à minha mente.

Fotos: Guilherme Theodoro

SBR Para mim, a coisa mais importante que você disse nessa sala é: nós precisamos conhecer o nosso passado para saber onde iremos! Isso é especial! Eu gostaria novamente de agradecer em nome de todos os fãs brasileiros da PUMA.

Charles – Obrigado pelo seu interesse!!!

Amanhã, na parte 3 dessa série, traremos a conversa que tivemos com Helmut Fischer, o Mr. PUMA, o que vimos em sua coleção pessoal, que evoluiu para um arquivo da marca, e a visita que ele guiou pela linha do tempo dos produtos esportivos da PUMA.

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