Segunda Da Revista: Os 40 Anos De Nike Cortez, Em 2012

18 jul 2022

Há 10 anos, quando nossa Revista SBR #2 ia às ruas, o Nike Cortez completava 40 anos. Hoje, o ícone do Swoosh comemora seu meio século de história e a gente relembra uma matéria bem especial dele que foi veiculada justamente naquela edição. Vamos de Segunda da Revista!

NIKE CORTEZ
40 anos de simplicidade

Por Chris Aylen

Um dos poucos modelos que estende uma ponte entre a modesta origem da Nike – como Blue Ribbon Sports – e a marca que todos conhecemos e amamos hoje, o Cortez evoluiu bem lentamente ao longo dos últimos 40 anos. 

Inicialmente conhecido como Tiger Corsair (baseado no original Onitsuka Tiger), o tênis foi uma tentativa de Bill Bowerman de atender a preocupações de atletas modernos. Enquanto o couro é, talvez, a opção de material mais famosa para o Cortez, foi o uso de náilon e suede que se tornou mais fortemente associado ao modelo. Ambos os materiais eram vantajosos em performance: náilon era durável e tinha um peso total ínfimo, enquanto o suede preservava a forma da silhueta. 

A grande inovação era a entressola inteira de espuma de dupla densidade (que, segundo rumores, foi resultado da fusão da sola de uma sandália de dedo ou de um chinelo de banho com o revestimento superior de um calçado esportivo), projetada para oferecer conforto e estabilidade em áreas de alto impacto do pé, enquanto se corre ou se pratica um outro esporte de alto impacto. A superfície da sola, cheia de recortes, conferia ao tênis acabamento que se mantém razoavelmente peculiar 40 anos depois. O formato de ponta de lança da parte superior lhe dava um visual aerodinâmico adequado. Embora o Cortez, de modo enganoso, parecesse um tênis simples, ele se tornou carro-chefe das inovações da Nike.

Deixe de lado as inovações técnicas por um minuto. 

O impacto do Cortez na sociedade moderna é lendário. Ele se entranhou em muitos gêneros e culturas, incorporando-se firmemente na história do b-boy da costa leste americana, nas raízes do hip-hop gângster da costa oeste, na cena da música rave do fim dos anos 1980 e do começo dos anos 1990 e em muitos outros contextos. Sem esconder seu apelo publicitário, o Cortez apareceu no filme “Forrest Gump”, em que o personagem de Tom Hanks calça, orgulhosamente, o tênis em sua jornada através do país. 

Embora o modelo dificilmente seja usado para o mesmo propósito hoje em dia, muito skatistas dos anos 1970 o adotaram. Com sua constituição simples e sua sola de superfície durável, ele oferecia uma alternativa ao domínio de outras marcas, como a Vans. Relançado de maneira agressiva na Europa nos anos 1990, o tênis rapidamente apertou o passo para se tornar um dos mais vistos nas ruas, aparecendo nos pés de muitas bandas, artistas e ícones culturais. A associação com a rebeldia da juventude (especialmente no Reino Unido) desvirtuou suas intenções singelas, mas muitos preferem associá-lo com Farrah Fawcett andando de skate, atletas barbados ou heróis de filmes a criminosos menores de idade, vândalos e frequentadores de pubs.

O Cortez se viu inesperadamente imerso em círculos de gângsters de Los Angeles, onde era bem-quisto por ser simples, ter cortes básicos e por ser fácil de combinar com qualquer coisa. As camisas Ben Davis, as calças jeans ou as chinos largas combinadas com um Nike Cortez branco ou preto formam um retrato definitivo do estilo do leste de Los Angeles no meio da década de 1990. Por conta do formato arredondado e muito cingido da área do calcanhar, alfinetes e dobras nas calças eram essenciais para evitar que o tecido parasse debaixo do pé, especialmente quando se usavam calças grandes demais. Por causa das disputas territoriais ou como sinal de respeito, as opções de cores do Cortez eram cautelosamente selecionadas para evitar confrontos em certas vizinhanças.

Antes que o mundo ocidental tivesse a ideia de apreciar, colecionar e acumular tênis – e rotulasse esse fenômeno como “cultura sneaker” – o Cortez e outros tênis de corrida dos primórdios da Nike eram vendidos e celebrados por muitos fãs japoneses. Modelos antigos mudavam frequentemente de donos por mais de mil dólares, e publicações como a Boon se tornaram as bíblias para o Cortez, dando destaque para muitas das diferentes versões que saíam.

Um dos primeiros modelos a aparecer no site da Nike iD, o Cortez era um teste perfeito para o projeto. Suas linhas básicas e as opções simples do painel permitiam que os consumidores testassem suas habilidades em criar opções próprias de cores para um sapato que ainda estava, em grande parte, restrito a uma paleta de cores limitada. O lançamento aconteceu justamente num dos períodos de maior popularidade do tênis desde a década de 1970.

Apesar de a silhueta básica ter se mantido mais ou menos a mesma ao longo dos 40 últimos anos (lateralmente, pelo menos), mudanças sutis mantiveram o Cortez interessante e ampliaram o seu apelo. A versão original, branca, azul e vermelha, deu vazão a uma grande diversidade de opções de cores e de materiais. O surgimento do Señorita Cortez, em 1975, ofereceu um design com ponta mais estreita e fina para pés femininos. Opções com o logo em pele de cobra e modelos cobertos com joias tinham como alvo mercados completamente diferentes. Mas, enquanto o cabedal mudava, por baixo ele era, praticamente, o mesmo. A pequena proteção para os dedos dos primeiros modelos sumiu gradualmente (imaginamos que ela era mais um atributo cosmético do que uma vantagem técnica) e o formato como um todo se tornou menos pontiagudo e mais parecido com uma bala, à medida que o tempo passou. O logo emagreceu um pouco em relação aos dos primeiros exemplares, mais inchados, mas modelos retrôs recentes trouxeram de volta a versão original para os puristas, que viam isso como uma parte importante da estética do tênis.

Uma porção de variações surgiu nas últimas décadas, como o incrível Cortez Escapes, o Cortez Deluxe e o Cortez Fly Motion, e uma rápida caminhada por sua cidade vai revelar muitos outros estilos, mas vai haver sempre alguma coisa que preserva a versão original e simples, de náilon, no topo. Feliz aniversário de 40 anos para um dos tênis que genuinamente mudaram o jogo!

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