50 Anos De Vans: Uma Entrevista Exclusiva Com Paul Van Doren

16 mar 2016

Na semana em que festeja meio século de existência, a californina VANS nos deu a chance de conversar com o seu fundador Paul Van Doren, resultando no papo exclusivo que você confere a seguir.

Com 16 anos de idade, Paul Van Doren começou a trabalhar no mercado calçadista norte-americano, após abandonar a escola e ir atrás de emprego na Randy’s, fábrica de calçados da região de Boston. Em seus 20 anos na Randy’s, Paul saiu do chão de fábrica até chegar ao cargo de Vice-Presidente Executivo.

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Depois de sair da empresa, abriu sociedade com Gordon Lee, Serge D’Elia e seu irmão James para criar sua própria empresa: a VANS.  Originalmente chamada de Van Doren Rubber Company, a VANS estava à frente de seu tempo com um modelo de negócios que é replicado até hoje no mercado: um fabricante vendendo seu produto diretamente ao consumidor, sem intermediários.

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 Em 16 de Março de 1966, Van Doren e seus sócios abriram a primeira loja da VANS em Anaheim, Califórnia. Durante essa época, a “Van Doren Era”, consumidores podiam encomendar tênis especiais diretamente para a VANS e levar seus próprios materiais para criar modelos únicos. A empresa era familiar, já que muitos parentes de diversas idades trabalharam como vendedores, caixas e até foram responsáveis em abrir novas lojas da VANS ao redor do sul da Califórnia.

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Mesmo que Paul Van Doren tenha vendido a Vans em 1988, seu filho Steve Van Doren e neta Kristy Van Doren-Batson seguem espalhando o “Espírito Van Doren” ao redor do mundo.

Qual foi o motivo que te levou a seguir um caminho como fabricante de tênis independente?

Paul: Quando estava completando meu vigésimo ano na Randy’s (Randolph Rubber, antiga fabricante norte-americana de calçados) eu tive uma ideia e fui falar com meu chefe. Eu perguntei “Por que não fabricamos os tênis, colocamos em lojas da fábrica e vendemos nós mesmos?”. Ele respondeu “Você é maluco, isso nunca vai acontecer”. Na época, o mercado de calçados dependia dos revendedores e eles vendiam em torno de 35% do que era produzido pela Randy’s. Revendedores mandavam na empresas, e as empresas estavam à mercê dos revendedores. Em uma ocasião, um representante de vendas falou para um colega meu para sair na rua e pegar uma pomba. Quando me dou conta, o rapaz estava do lado de um poste, no meio da noite, tentando pegar um pombo com as mãos. Eu criei o conceito da Vans para acabar com isso, com esses comportamentos. Nós sabíamos como fazer os calçados, então colocamos em nossas lojas próprias e não precisávamos ficar puxando o saco de qualquer revendedor. Aquela pomba se tornou um símbolo nos nossos primeiros dias: nós tínhamos ela desenhada em nossos cheques, notas e até no bolo que comemos no dia da inauguração. Na Vans nós não pegamos pombas!

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O que você se lembra do primeiro dia da Vans?

Paul: Quando a Vans começou, nós achávamos que íamos abrir em 1 de Janeiro. Mas não deu, aí colocamos uma faixa na frente do prédio que dizia “Se eu te falar Fevereiro, você acredita?”. No fim do mês, penduramos a faixa “Será em Março?” Assim que a fábrica ficou pronta, abrimos a loja com tudo que você encontra em um varejista: um balcão, prateleiras, uma caixa registradora e banquinhos para as pessoas sentarem. Mas só tínhamos caixas vazias, para ficar mais apresentável. A primeira pessoa a entrar na loja comprou um par do que hoje é chamado de Authentic Lo Pro na cor branca, por US$2,49. Ela me deu uma nota de US$5 mas ainda não tínhamos troco na caixa! Sem troco, acabamos vendendo uns 16 pares sem receber nada – mas todos voltaram e pagaram exatamente o que era devido. Exceto uma pessoa, que voltou 3 semanas depois e me disse “Me desculpa. Minha filha mora em Anaheim e eu em Long Beach. Só venho aqui a cada 3 semanas”.

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Como era a rotina diária nesses primeiros dias?

Paul: O dia-a-dia era intenso. No começo foi difícil achar o ritmo da fábrica, mantendo a produção funcionando o dia todo e seguindo a rotina na loja. Em poucas semanas, começamos a ter filas ao redor da loja de pessoas que queriam conhecer e comprar os nossos tênis. O que eu fiz? Abri mais lojas. Na segunda procurava um prédio novo, terça assinava o contrato de aluguel, na quarta montava os móveis, na quinta montava a loja, na sexta levava os tênis e no sábado inaugurava a loja. E assim fui seguindo.

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Você se lembra quando começaram a pintar nos tênis da Vans?

Paul: Desde o primeiro dia, desde sempre. Eu prestava atenção nos desenhos feitos nos tênis para entender novas tendências e padrões. Começamos com cores sólidas e rapidamente introduzimos padrões, estampas e imagens no cabedal e na sola.

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Existia alguma tendência que era muito popular no começo?

Paul: As tendências variavam mas nós conseguíamos entregar aos consumidores o que eles queria ao oferecer tênis customizados. Se eles queriam algo diferente, era possível levar qualquer tecido e nós fazíamos os tênis com o material. Isso funcionava muito bem com a clientela feminina, elas podiam fazer o que quisessem. Eu passava as medidas do tecido, as pessoas compravam e nós fabricávamos os tênis.

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O que o publico feminino significou para a Vans, nesse começo?

Paul: O público feminino sempre foi muito valioso para nós. As mulheres podiam fazer os tênis do exato jeito que elas desejavam, mesmo se as cores fossem difíceis de se obter. As mães também tiveram um importante papel para nós. As mães eram quem decidia as coisas nos lares, no quesito vestimenta, onde e o que famílias compravam para vestir. As mães iam para Vans para comprar tênis para toda a família, sabendo que os tênis iam durar o dobro – já que a gente usava o dobro de borracha na construção da sola. Dou muito crédito do nosso sucesso às mães que nos apoiaram.

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Qual seu modelo favorito da Vans?

Paul: Meu tênis favorito é o Vans Style 44, o Authentic. O Authentic está na Vans desde o primeiro dia, sempre pronto para usar. As cores originais do Authentic eram branco, azul claro, azul marinho e verde.

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O “Espírito Van Doren” é um termo que ainda é utilizado na Vans para definir o caráter e dedicação em uma determinada atividade. O que significa o “Espírito Van Doren” para você?

Paul: Significa tudo para mim. O “Espírito Van Doren” é o que fez essa empresa. Nós tínhamos pessoas boas fazendo a Vans acontecer no passado e temos pessoas boas fazendo isso hoje, a Vans é uma marca que abraça e acredita nas pessoas.

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50 anos de história da Vans, de 1966 até hoje: como você vê essa trajetória da marca?

Paul: Na minha época, a marca era uma grande pequena empresa e hoje é uma incrível compania gigante. VFC e a Vans fizeram um trabalho incrível trabalhando com as pessoas certas, desenvolvendo os produtos e crescendo em uma escala global.

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