Sobre A Expansão Do Mercado Sneakerhead E A Febre Dos Isabel Marant

01 ago 2012
Por: Luís

Adaptação e variação. São esses os dois maiores fatores necessário parar garantir o sucesso de uma empresa a longo prazo.
Até o começo dos anos 2000, o que se chamava de movimento sneakerhead era um grupo fechado e relativamente pequeno, que tinha surgido no meio da década de 80 e ainda não tinha tempo e espaço para ser visto na grande mídia. Efetivamente, seus partidários não faziam questão da exposição e, alguns deles, até se orgulhavam por fazer parte de um grupo restrito.

 

Entretanto, ao mesmo tempo que a ressurgimento do pop explodia de um lado, o HIP-HOP ganhava atenção da grande mídia e ,mais importante, o movimento que antes era visto com mal olhos passou a ser aceito. Acusações de diluição do estilo musical à parte, a verdade é que esses novos artistas se tornaram celebridades, para quais os jovens e a mídia olhavam com muito mais atenção.

 

A parte que nos interessa, é que seu estilo foi visto, assimilado e replicado e uma parte importante desse estilo eram os tênis vistos nos seus pés.
Não é exagero dizer que nove em cada dez artistas do gênero podem ser considerados ‘sneakerheads’, assim como não é exagero notar que a grande mídia tomou conhecimento dessa cena. E claro que outros fatores como o fortalecimento – e consequentemente, o crescimento – do mercado também serviu para chamar atenção dos veículos de comunicação não segmentados.

O primeiro exemplo dessa exposição pode ser sentido na segunda metade dos anos 2000, quando as marcas de luxo começaram a olhar para os tênis como uma maneira de renovar sua base de mercado,atraindo um público mais jovem, porém ainda endinheirado  – adaptação e variação.
Nomes como GUCCI, GIVENCHY, PRADA, LOUIS VUITTON, DIOR, LANVIN, entre outras, retrabalharam sua identidade visual para criar modelos que podiam ser identificados como ‘tênis’.

Com o sucesso dessas investidas, as marcas tradicionais perceberam que tinham penetração num mercado mais caro e também trataram de dialogar com esse mundo. A ideia inicial foi usar materiais e técnicas de construção mais refinadas, além de trabalhar o lado da exclusividade que as marcas de luxo usavam, como maior ponto de interesse nos seus modelos.

O que se viu foram parcerias como a coleção cápsula de JEREMY SCOTT com a ADIDAS – que evoluiu para uma coleção contínua, assim como a de YOHJI YAMAMOTO, resultando na Y3 – sem contar a união da PUMA com ALEXANDER MCQUEEN e da UMBRO com KIM JONES, ou desdobramentos em divisões “de luxo” das marcas tradicionais, como ADIDAS SLVR, OBYO e BLUE, VANS OTW e outras, ou ainda a parceria de JUNYA WATANABE, através da COMMES DES GARÇONS, com a NIKE, que resultou na onda de modelos com tratamento vintage, depois que WATANABE usou modelos assim nos seus desfiles.

Até então, esse era uma mercado claramente voltado aos homens, ou, na melhor das hipóteses, as silhuetas eram unissex.
Esse cenário mudou recentemente, graças a uma nova onda de modelos, dando a volta, com um movimento que começou com marcas de luxo se popularizando e chegou ao mercado de calçados mais acessíveis.

 

 

O grande responsável por esse “revolução”foi o (mundialmente copiado) WILLOW, tênis assinado por ISABEL MARANT que passou a habitar os blogs internacionais de moda no final de 2011, se popularizando durante o primeiro semestre e explodindo – até o ponto da saturação – no meio de 2012.
É claro que muitas marcas correram para aprontar suas versões, para ficar num termo mais leve…

A receita é básica e repetida à exaustão: canto alto, solado de borracha – quase sempre natural – e um salto interno com desenho anabela.
Os estilos variam: alguns são mais cleans, outros mais elaborados, e tachas, franjas e straps são adornos comuns. Couro liso e suede são os materiais mais frequentes, em combinações sóbrias ou coloridas, dependendo da estação.

Fica difícil identificar os modelos por marca, já que todos se parecem muito com seu inspirador.
A maior diferença fica por conta dos estilos, e claro, do preço, que varia de 150 a 400 reais, geralmente, para as marcas nacionais como ESDRA, AREZZO, MOLECA, SCHUTZ, CRISTÓFOLI, QIX, ANTIX e DESMOND – apenas alguns exemplos da imensa lista dos “inspired” nacionais.

Além do estilo, a grande polêmica que cerca os ISABEL MARANT e seu séquito de seguidores, especialmente aqui no Brasil, é: ISSO É SNEAKER? Ou melhor, SNEAKER É ISSO?
Essa é uma questão delicada que tem movido desde de sneakerheads até a grande mídia, que adora simplificar, às vezes tem preguiça de pesquisar e resolveu “batizar” esse tipo de calçado como SNEAKER, criando quase um subgênero da categoria tênis e usando a bizarra expressão “tênis sneaker” – o que é, no mínimo, pleonasmo.
SNEAKER é tênis e ponto. Essa é a definição que usamos e na qual acreditamos, mas vamos explicar o motivo.

A palavra sneaker foi criada pelo publicitário HENRY NELSON MCKINNEY, devirando-se do verbo “sneak” que significa esquivar-se. A ideia por trás do termo é simples: graças aos novos calçados com solado de borracha, era possível movimentar-se sem fazer barulho, daí a ideia de esquivar-se.
Esses calçados eram construídos em canvas ou couro, graças a sua flexibilidade, e eram usados para a pratica esportiva.
Ou seja, sneaker é simplesmente a palavra americana para tênis. Ponto. Na Inglaterra, usa-se trainers para a mesma função.
Sneaker, trainer ou tênis são palavras empregadas para definir calçados criados para a pratica esportiva, mas que hoje fazem parte do guarda-roupas casual de todos os mercados do mundo. Somente isso.

Então os sapatos de ISABEL MARANT e seus derivados não podem ser considerados sneakers? Sim, apesar de fugirem da ideia do tênis atléticos, uma vez que faz tempo que os tênis migraram do terreno esportivo para o lifestyle, mantendo ou não o pé fincado na atividade física.
E sob a ótica de um dito sneakerhead? Bem, essa é uma resposta que vai de cada um.
Entretanto, é importante evitar a noção que alguns meios de comunicação menos interessados pela assunto passam ao seu público: o nome desses modelos não é sneaker, UM SNEAKER NÃO É, EXCLUSIVAMENTE, UM TÊNIS COM SALTO INTERNO.

Sneaker é simplesmente a palavra americana para… tênis. Objeto pelo qual nós, do SNEAKERSBR, continuamos apaixonados.

 

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